sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Dora Ferreira da Silva


Foto: Edu Simões

Mulher e pássaro


Voltamos ao jardim
ao banco lavado pela chuva.
Pedimos o verde ao verde
a flor à flor
sem quebrar-lhe a haste.
Bastaria a manhã.
(Nossa presença
desalinha ar e folhas
num frêmito.)

Mas se nada pedimos
como quem dorme seguindo a linha natural
do corpo
respiramos o puro abandono:
um pássaro alveja o azul (sem par)
ultrapassa o muro do possível
e assim damos um ao outro
a súbita presença
do Céu.


Dora Ferreira da Silva
Conchas - SP
(01/07/1918 - 06/04/2006)

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