terça-feira, 1 de setembro de 2009

Vicente Franz Cecim



Música e musgos


I

Não é a água
que jorra fora de nós,
das fontes, cantantes

É
A Água

que corre do Vaso de Sombras por dentro: Rumor
da carne em seu leito

O Corpo,

um estado de musgo
Demanda da paz vegetal

O Corpo,
uma flauta de osso,
e aquilo é a voz dos perfumes


II

para abolir a tentação do grito,
um Animal murmura um homem escuro
para beber sem trégua uma Lágrima da estrela
chovendo sobre ti

E se ainda desabrocham a Fenda e a Senda, através da tua Lenda?
É que aqui por cima está o Tanto insuportável que a te grita: Vê sem agonia
Ainda por trás vem a Sombra
A que protege

uma
a
uma

as Ramagens gotejantes dos teus dias


III

Tenta saudar as manhãs nascentes
Se isso abrisse um olho de luz na tua pele mais ausente

E se
pisca efêmera
a tua gota perdida de sua gema gêmea,

é que um oceano oscila num sonho

os repousos que antecipam: os crepúsculos
as auroras sem poentes

e o ruído cintilante de tua sede

e a entretecida Forma que te tece: ó a Irmã Obscura, em Sua rede


Vicente Franz Cecim
Belém - PA (1946)

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