sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Foed Castro Chamma



Ir a ti – I


Ir a ti
colher as iras
crespas do ar
os verdes cachos
eriçados
de espinho,

despir do solo
o resto de uvas
que espremi no frio

armar na grama
os ramos de amor
presos à terra,

as raízes
do grito

cortar o rito
das retinas
queimadas,

lavrar o ouro
o ímpeto rubro
do riso

pisar a urtiga
a perniciosa língua
a ácida ameixa
o amargo fruto
a amora

o olhar veloz
a amedrontada noite
o aflito ouvido
da estrada,

desatar a fala
das árvores
as fitas
das serpentes
o azul do voo
as asas
das borboletas

desatar
as asas pretas
dos corvos

folhas de carvão
no ar

ríspidas folhas
de ásperos riscos
lápis em pânico
ardido grito

queimar a língua
das águas
varar os cabelos
da noite

negro ar de penas ocultas

queimar a luz
atrás do grito
das aves

compor nos passos
a mudez da fala

carpir o capim
colher o arroz
cortar a lã
dos carneiros
o fogo da boca
o ruído
das palavras

dobrar as cordas do ar
presas ao vento

conter as bocas
em fuga
enquanto dorme a voz
foragida no sono

comer a ameixa

doce enxame de amor
em negro fruto


Foed Castro Chamma
Irati – PR (1927)

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