Ir a ti – I
Ir a ti
colher as iras
crespas do ar
os verdes cachos
eriçados
de espinho,
despir do solo
o resto de uvas
que espremi no frio
armar na grama
os ramos de amor
presos à terra,
as raízes
do grito
cortar o rito
das retinas
queimadas,
lavrar o ouro
o ímpeto rubro
do riso
pisar a urtiga
a perniciosa língua
a ácida ameixa
o amargo fruto
a amora
o olhar veloz
a amedrontada noite
o aflito ouvido
da estrada,
desatar a fala
das árvores
as fitas
das serpentes
o azul do voo
as asas
das borboletas
desatar
as asas pretas
dos corvos
folhas de carvão
no ar
ríspidas folhas
de ásperos riscos
lápis em pânico
ardido grito
queimar a língua
das águas
varar os cabelos
da noite
negro ar de penas ocultas
queimar a luz
atrás do grito
das aves
compor nos passos
a mudez da fala
carpir o capim
colher o arroz
cortar a lã
dos carneiros
o fogo da boca
o ruído
das palavras
dobrar as cordas do ar
presas ao vento
conter as bocas
em fuga
enquanto dorme a voz
foragida no sono
comer a ameixa
doce enxame de amor
em negro fruto
Foed Castro Chamma
Irati – PR (1927)
sexta-feira, 16 de outubro de 2009
Foed Castro Chamma
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