quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Wilmar Silva




Estilhaços no Lago de Púrpura


um

eu quebrado por você sou estilhaços no lago de púrpura/
á entre nós e calos, sou esta enxurrada que invade
eu/ aquele que vem com faunos de flautas e flechas
sou o mesmo wilmar silva de mil diamantes nos olhos
e mesmo que haja asas de arribação na mira da boca:
o que faço com esta língua na mina de sangue/
vem agora um ouriço com vestígio de godiva,
eu/ sou este cavalo com escamas nas crinas
e cascalho para cavalgar um corpo distante/
mais que esta noite com centelhas de semens
que nascem entre meus dedos de sonhos/ eu


dois

/ eu que venho com um ramalhete de espinhos na carne
derramo lâminas e facas nos olhos dos pés,
ainda sim/ serro um pássaro/ de asas nos braços
coiote eu/ eu hiena nascer de um rio sem margem,
piscoso envenenado de tanto mergulhar na terra
eu perdido no escuro da madrugada atrás de você
um ermo eu: uma ave ferida no ermo eu:
apenas um caçador alcança a lontra no dorso
sou eu este que vem armado de flechas e dardos/
para uma flecha presa no umbigo a minha língua
para um dardo derretido na virilha a boca de beijos


Wilmar Silva
Rio Parnaíba – MG (1965)

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