quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Priscila Lopes





Retrato de família


O vento sul suspira mudanças.
Creio que seja cedo ainda, e ainda ontem
avistei tempestades em cachoeiras;
pequenas chamas em brasa ardente.

(talvez esta não seja minha família)
Olho para ele e o indago, o persigo.
Dói desabotoar a camisa, dói
fazer o próprio café? Há noite
seu não faço mais que fechar os olhos
- e as pernas. Há noites contemplo jantares,
colunas sociais; protagonizo a agonia
de desfilar seminua, semiesposa, semialgumacoisa.

Quando varro a casa é quando
tenho paz. No entanto, no instante
em que as chaves se movimentam,
eu me tranco lesma, eu me fecho intensa
gosma de encolher marido.

O bebê banaliza o berço.
O bebê é nosso. É teu e meu.
Nasceu quando? Antes de haver
nós embaraçados, e me recitavas
versos com a palavra "flâmula".

(perigoso estilete cortou-me as partes)

Agora ando pendendo para um dos lados.
Nenhum dos dois me conhece, porém.
E há sempre um terceiro que diz...


Priscila Lopes
Brasília – DF (1983)

Nenhum comentário:

Postar um comentário