sexta-feira, 22 de outubro de 2010

Gláucia Lemos


Pizza de rúcula


Os pés sob a mesa, as mãos sem destino.
As palavras vazias
e as líricas chaves do quarto do hotel.

A presença banal das coisas banais,
os pratos, talheres, o cristal dos copos
enchendo o vazio dos espaços sem nome.

Três dias, dois dias, um dia somente,
e o trem vai passar
vai passar para sempre.
Maldito relógio.

O último pedaço da pizza de rúcula
sobrando no prato de porcelana branca.

No último instante, ainda um abraço.
Um resto de campari colorindo um copo
e no amargo silêncio incolor, ainda um olhar,
um último olhar deixando o rastro.

E os pneus do carro no rastro do asfalto
molhado de chuva, molhado de ausência
que ainda continua partindo
em cada porção de pizza de rúcula
em um prato qualquer de porcelana branca.


Gláucia Lemos
Salvador – BA (19??)

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